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1 de julho de 2009

O Passado é uma Remington.

Por: e. Jim Duran
1º ano Letras/ FAP


Chego do trabalho com os olhos cansados e com os ouvidos órfãos. Passo o dia cercado por televisores, computadores, câmeras, microfones, spots (1). Em casa há os meus livros espalhados pelo quarto que transformei em escritório. Há roteiros, cd´s de trilha, fotos e, em um canto saudoso, uma máquina de escrever portátil me fita. Cada vez que eu a vejo lembro de quando a ganhei.
Nasci em uma família de jornalistas e a tal Remington foi herança profissional de meu tio Arnaldo. Sempre imaginei quantas reportagens ele escreveu ali, quantos textos aqueles tipos leram em primeira mão Quando eu a ganhei trabalhava em um jornal local (2) e geralmente lavava algumas idéias para produzir em casa (3).
Na época, sentava-me à mesa da copa e datilografava até às três horas da manhã. Ali formalizei muitos poemas e rabisquei alguns poemas abortados e já descartados. Cartas enviadas, e não, e uma receita de bolo inglês. Tudo nasceu ao som do tec-tec das teclas. Havia resistência nesse ato de registro. O mecanismo da máquina criava uma resistência, um peso, no teclado e, por isso, tinha aqueles que espancavam a coitada como se o texto assim ganhasse mais verdade.
Escrever a maquina para mim era um ritual. Abrir a maleta onde ela é guardada, escolher o papel e coloca-lo no carro. Acertar a tabulação e começar o que tinha que ser feito. Demorava um pouco mais é verdade, mas exigia mais atenção, por que errar em texto datilografado era um suplício. Usava-se uma borracha especial que só borrava. Ainda uma fita corretiva que soltava uma película branca que manchava todo o teclado. É claro que também havia a possibilidade de se agarrar o papel com fúria e excomungar todas as suas gerações e depois recomeçar o trabalho
Lembro que sempre interpretei o uso da máquina como um romantismo – é como acender o cigarro com fósforo. E mesmo ali no canto do quarto sem uso é nessa Remington que penso a cada vez que me sento em frente ao computador e começo a produzir, com o plic-plic sem personalidade do teclado que o micro possui.
A tela, enviando luz, não ilumina a idéia. A cpu, roubando energia, é uma infinidade ao simples toque do mouse. O mundo ficou imediato e imbecil. Pode ser moderno, rápido e cheio de estilo, com inúmeras possibilidades, mas quando uso o computador eu penso com saudade na máquina de escrever portátil que me acompanha há catorze anos.






1 – Na época eu trabalhava na TV CIDADE CANAL 23 como repórter, apresentador e diretor.
2- Trabalhei na FOLHA DO POVO em Tupã de 1994 a 1995.
3 – Criei um espaço para crônicas e as escrevia geralmente em casa. A coluna se chamou “Doença Crônica”.

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