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29 de outubro de 2010

madrugada

Estou feliz. Amanhã a tarde meu sobrinho Alisson virá ficar o fim de semana aqui em casa conosco. O menino é super gente boa e educado. A mãe dele deu boa educação. Alías meus 5 sobrinhos são massa, adoro os 4 moleques e minha princesa Emily. Ela fez aniversário no dia 27. Caramba já tem 10 anos.



26 de outubro de 2010

gêmeo?

“Mas essa sensação péssima na qual me encontro, descabelado, barbudo, gordo, sem paciência com nada, dormindo mal, levando bronca por coisas pequenas do dia a dia, xingando deus e o mundo... nada disso deixa de existir. Mesmo que eu cale meus verbos, não consigo calar o coração. E isso não resolve. Depois que e terminar o mestrado, quero ver se ainda me sinto assim. Já há um mês que meu quadro nao muda. Fico bem até, por algumas horas, em alguns dias. Mas é tudo tão passageiro. Feliz e infeliz são condições transeuntes na nossa vida. Mas parece que eu deixei de lado essa ideia e chamei para morar em mim toda a revolta do mundo. A felicidade vem visitar, esporadicamente, como sempre [como sempre foi depois que eu comecei a virar adulto, porque antes disso, a felicidade é que morava aqui]. Mas tá, abrir mão de dar lar à felicidade é uma coisa. Agora, chamar a fúria para morar comigo, aí não! No entanto, cá estou, odiando digitar errado e ter de apagar, odiando a bomba do chimarrão que entope sempre, odiando a erva do chimarrão, que não é aquela mais verdinha. Odiando tatear no escuro, quanto à dissertação, odiando os prazos se engolindo e vomitando responsabilidades urgentes em cima da minha cabeça.

Isso não é ser adulto. Isso é ser mal humorado. Sorte minha eu ter a cabeça no lugar. Sei que não vou cometer loucuras, porque ODEIO prejuízos emocionais [mais ainda do que os materiais]. Mas a vontade que eu tenho é de mandar tudo à merda. Inclusive eu. Fui.”



O trecho que você leu acima poderia ter sido escrito por mim, afinal meu mal humor está aí latente e pujante. Mas para minha alegria e surpresa de alguns imbecis a autoria é de meu irmão caçula Guilherme. Está lá na íntegra publicado no blog dele (quem quiser conhecer é só pegar o link na coluna ao lado).
Madrugada de terça-feira, uma e quarenta e três da manhã e eu encho meu fornilho mais uma vez, irei fumar um pouco do meu cachimbo para acalmar a mente que me cobra soluções rápidas para esse texto que não nasce.
Agradeço a esse humor ríspido e “cruel” (como diz Nathácia), porque ele me protege dos chatos de plantão. É claro que tenho que conviver com alguns, mas esses são poucos. Mesmo assim eu não ligo muito. Gostaria de estar em Salvador agora.

25 de outubro de 2010

Um Bêbado no Beco.

Eu não existo.
Fui criado por um cara medroso,
fui imaginado para dar voz
a seu silêncio.
Eu surgi para que sua covardia
não o dominasse.
Que o medo da poesia
não o aprisionasse.
Fui criado porque ele não sabe
encarar a noite
e nem os exércitos de perdidos
que vagam.
Ele não berra e aceita tudo
calado como um cadáver.
Ama com medo
e com medo o amor morre.
Não vinga.
ele me criou para que
o trouxesse à tona
desse se afogar solitário.


Livraria & Café BelasArtes
24 de outubro de 2010

2h30 da manhã de segunda-feira e um poema para mim.

Meus caros o sarau de ontem foi uma delícia, estamos acertando o tempero dessa paeja cultural. Tivemos poemas, bons poemas, e boas músicas. Recitei novamente trechos de "O Navio Negreiro" de Castro Alves.
A noite foi em memória de Luiz Bertazzoni e, para variar, o que devia se curvar mais nem apareceu, sanguessuga sacana. Mas foi melhor assim.

Mas a surpresa veio quando Nelson anunciou que recitaria um poema de sua autoria. Pensei que seria um que ele havia lido para mim algumas semanas atrás. Mas não, esse era inédito e se chama "Decassílabos". O mais massa é que ele é dedicado a mim. Fiquei emocionado com esse símbolo de amizade que o Lorde me prestou. Bom saber que parcerias se tornam amizades. É claro que reproduzo aqui o poema como ele foi escrito.

"Decassílabos"

Nunca vi ninguém cercado por tantos decassílabos,
Ladeado por ditongos, que em crescentes versos,
Busca frases tão próprias,
Para os momentos mais impróprios.

Nunca vi ninguém com tamanha ousadia,
Arrisca-se em momentos e lugares incertos,
Cativa desconhecidos à revelia.

Nunca vi ninguém quem usasse chapéu com tanta autenticidade.
Pessoa singular, de pretérito imperfeito e modos subjetivos.

Nunca vi ninguém bêbado em um beco,
Com um cachimbo aceso, um livro de poesia, uma mente sã,
Senhoras e senhores, eu vi...
Eduardo Duran

Nelson Santana



em breve postarei algumas fotos e vídeos da noite de hoje.
em outro post eu explico melhor esse lance de "bêbado no beco".
Ah, também terminei um poema meu. Rolou durante o sarau mesmo.

24 de outubro de 2010

para a Rayssa e o Luiz.





Quem pode dizer que o amor não existe.
Não reparou em Luis esperando Rayssa,
do outro lado da rua da livraria.
Quem se esqueceu da pureza do seu amor primeiro,
jamais iria reparar que ele a aguardava com paciência e carinho
por longas horas, enquanto dizíamos poemas
cheios de saudades de termos um amor assim.
Abençoada inocência que protege os namorados na adolescência,
e nos faz espectadores das descobertas que nós também já vivemos.
Também já esperei amores
atravessei estados,
vivi meus dramas, colhi meus louros,
chorei minhas lágrimas...
Envelheci com poesia.
Mas reparei no carinho que
fez Luis esperar por Rayssa após sarau.
E ele se abaixou, pacientemente,
como faz aqueles que amam
sem o tempo como infortúnio.

23 de outubro de 2010

época de eleições é PHODA

A Rede Globo comunica ao público que um falso e-mail começou a circular recentemente, afirmando que Pedro Bial está envolvido em uma mensagem que faz propaganda política. O jornalista e a emissora informam que o texto não é de sua autoria.

Periodicamente circulam e-mails falsos envolvendo a Rede Globo ou da sua programação. Os emails são mentirosos e não devem ser respondidos, especialmente com o fornecimento de qualquer dado do usuário.

Para ajudar o telespectador a se prevenir contra esses atos mal-intencionados, a Rede Globo mantém permanentemente neste site uma área de boatos. Se você receber algum e-mail suspeito, cheque em nosso site se há alguma informação disponível ou entre em contato com o CAT - Fale com a Globo pela internet ou pelo telefone 400-22-884

19 de outubro de 2010

Deixe que o tempo trará certezas,
Todas feridas se fecham
E fica apenas a experiência.
Eu a vejo nesta tela
De pinturas modernas.
Teus olhos me encaram,
Firmes
Num olhar aprisionador
Que traz para mais perto
E convida.
Vamos caminhar pela silenciosa madrugada
Poder falar como está a vida
E os sonhos que não realizaremos
Mas insistimos em ter.

texto de Oswaldo Mendes


Farinha pouca, meu pirão primeiro


18/10/2010 - Opinião1


Oswaldo Mendes (publicação autorizada pelo autor)

Do coletivo teatral que conseguirá pagar o imóvel alugado graças ao programa de fomento da Prefeitura de São Paulo, ao grupo da pequena e longínqua cidade agraciado por um dos Pontos de Cultura do governo federal, sem esquecer os municípios que se agitam com as periódicas viradas culturais do governo paulista, estamos todos satisfeitos. Para quem se acostumou a viver, nos últimos tempos, da mão pra boca, não há do que reclamar. Talvez seja por isso que, na recente campanha eleitoral, a palavra Cultura sequer tenha sido pronunciada, menos ainda discutida, por nenhum candidato a qualquer cargo. E não faltaram pagodeiros, palhaços, atores, sambistas e outras celebridades de calibres diferentes apresentando-se aos eleitores.

Nem os candidatos que em sua biografia lembram, quando oportuno, terem alimentado veleidades artísticas na juventude e os que ainda hoje cometem versos apaixonados ousaram tocar no assunto. Por quê? Simples. Vai tudo muito bem e quem se queixa é porque ainda não chegou a sua vez de ouvir tilintar no pires as moedas redentoras. Basta um pouco de paciência. Quem sobreviver terá seus trocados. Alegrem-se, pois há bolsas para todos. Até para os entretenimentos chiques, ou megaeventos musicais, dançantes, circenses, visuais, plásticos, gráficos, cibernéticos, literários, cinematográficos e teatrais – sem esquecer as feiras de uva ou de gado – aos quais bancos, financeiras ou empresas de grande porte, nacionais ou multinacionais, destinam os seus patrocínios sob as bênçãos da Receita Federal e do bolso dos contribuintes. O pão para o circo, enfim, está garantido. Lamentar, quem há de? Talvez a Civilização e as gerações futuras, mas por enquanto elas não têm direito a voz nem voto, pois a barbárie fashion venceu e dá as cartas como nunca antes na história deste País, para recorrer à máxima irresistível dos nossos novos descobridores que singram suas caravelas neste deserto de ideias, à esquerda e à direita.

A ausência da Cultura (maiúscula, por favor) em todos os palanques reflete em primeira e última instância a ausência do Pensamento e, com ele, das ideias, que foram substituídas por receituários, apresentados pelos candidatos como panaceias (que mais parecem placebos) para as urgências cotidianas da população. Esse vazio de ideias se observa, e não só no período eleitoral, na maioria das organizações sociais e políticas, partidos à frente. Fala-se da despolitização dos cidadãos anônimos, como se ela não tivesse atingido a todos. Mesmo quando grupos de ilustres cidadãos se manifestam, o que está em pauta é o varejo da Política, seja o alerta encabeçado por D. Paulo Evaristo, sobre a ostensiva presença de Lula na campanha de sua candidata, seja a réplica de juristas liderada por Márcio Thomaz Bastos, considerando justo que o Presidente faça tudo o que faz. Cabeças coroadas que já estiveram juntas em outros e mais nobres embates, agora preferem divergir sobre circunstâncias, ainda que se reconheça a legitimidade de suas motivações atuais. Mas o que elas fizeram não foi senão reforçar a prática de caminhar olhando para a ponta dos pés, abdicando de um debate que exercite o Pensamento e seja capaz de refletir sobre ideias que possam apontar para além dos acertos e mazelas do momento. Esse é o resultado mais perverso do continuado processo de despolitização da vida brasileira, do qual nem artistas e intelectuais escaparam ao longo das últimas décadas. Também nos palcos e nas telas, sobra pouco espaço para ideias. Venceu ali, como no resto do país, o entretenimento. Eventuais exceções não contam. Há que sobreviver, argumentamos como desculpa acanhada. Como se a sobrevivência fosse o objetivo de quem acredita na Arte como valor a ser perseguido. Há formas menos envergonhadas e mais dignas de “sobreviver”.

Criou-se assim o círculo da barbárie. Se a Cultura esteve (e continua agora no segundo turno) ausente das eleições e dos discursos de todos os candidatos é porque, talvez, os que a representam também abdicaram de promovê-la. Preferem as políticas de resultado, que lhes garantam sobreviver com fomentos, viradas e pontos de cultura (em minúscula mesmo) e CEUs que apontam para lugar nenhum. Não há preocupação em refletir a respeito, nem mesmo na imprensa, que se limita a promover o nada, refém de uma invisível “indústria cultural” que pauta os seus interesses, ou, quando a consciência lhe pesa, encastela-se num iluminismo tardio. Ninguém, na imprensa ou fora dela, se espantou quando um secretário da Cultura recentemente proclamou aliviado que a sua pasta não tem nada a ver com a Educação. Não tem mesmo, na lógica dos nossos (des) governantes e dos seus sucessores. Nem a Educação tem coisa alguma a ver com a Cultura. Vigora a lei do cada um por si e o diabo para todos. Só nos resta esperar que haja Unidades de Polícias Pacificadoras para todos.


O autor, Oswaldo Mendes, é ator, diretor de teatro e dramaturgo, autor de “Bendito maldito – Uma biografia de Plínio Marcos” (Editora Leya), prêmio Jabuti 2010

artigo publicado no domingo, 17 de outubro, pelo Jornal da Cidade, de Bauru/SP

carta para a Lua

Oi, sei que sumi. Me recuperei da gripe uns 93%, melhor que isso creio que não fico. Depois que parei com o cigarro ando com uma preguiça danada. Algumas preocupações me tomam a madrugada que agora termina mais cedo, porcaria de horário de verão. É quase uma hora da madrugada e sei que você não virá hoje. Um dia repleto de momentos interessantes. Recebi um texto ótimo do Oswaldo Mendes publicado no Jonal da Cidade, lá de Bauru. Saudades de quando ia visitar os velhos e ficava lendo ali na casa da rua Santa Terezinha. Recebo por e-mail a autorização do Oswaldo para publicar o texto aqui no blog, gente fina é outra coisa.
Bem, talvez você queira saber que coloquei um toque em meu celular especialmente para você, The Space Between anunciará o seu desejo de falar comigo. Como será que andam as coisas com você? Será que devo te ligar? Talvez eu fume um pouco, meio fornilho, enquanto resolvo isso.
Chegou hoje, via BelasArtes, a biografia do Aleister Crowley escrito pelo Johann Heyss, li um tanto na faculdade antes de minha aula de linguística e mais um pouco enquanto ouvia pela tv o documentário sobre o pianista canadense Glenn Gloud. Será que você gosta de piano? Um dos fatos interessantes que eu encontrei logo no início do livro foi o nome de uma das tias do jovem Edward Alexander Crowley (ele ainda não tinha adotado o Aleister, que nada mais é do que Alexander escrito em gaélico) é Ada. Esse é o nome de minha mãe.
Recebi também alguns textos para correção e apreciação, creio que nunca darei aulas mas irei parar em uma editora como aconteceu com o Vanderlei Orso. Passa um pouco da uma da manhã e enchi o meu Paronelli 51 A - Rustic com um tabaco de café, ainda não é o que eu mesmo preparei, mas esse está próximo. Estou ouvindo um disco do Gould que baixei agora, "Bach, JS - Goldberg Variations Glenn Gould", muito bom mesmo. Ágil como um pássaro que se joga do ninho pela primeira vez.
O domingo se aproxima e com ele mais um sarau, esse é todo especial. Ao menos queria que fosse para os outros também. Saudades de Talita.

Bem irei para a cama ler um pouco mais.
Tinha tanta coisa

10 de outubro de 2010

25 anos sem Orson Welles


O gênio norte-americano Orson Welles deixou um legado indispensável para entender o cinema. Entre suas obras mais famosas, se destaca o clássico “Cidadão Kane”

Em quase todas as relações de críticos cinematográficos sobre os melhores filmes realizados em todos os tempos, o clássico “Cidadão Kane”, de Orson Welles (1915-1985), figura em primeiro lugar, em grande parte pelas inovações técnicas e a originalidade estilística, além do tema ousado que se inspirou na vida de Randolph Hearst, temido magnata da imprensa americana. O poderoso Hearst ainda tentou interromper a produção e fez tudo para boicotá-la depois de pronta, por considerá-la uma difamação sobre sua vida pessoal, camuflada sob personagens supostamente fictícios.

Orson Welles revelou muito cedo seu extraordinário talento. Foi uma criança superdotada e começou a carreira artística no teatro e no rádio dos Estados Unidos, onde causou pânico nacional ao levar ao ar um dramático programa, concebido como reportagem de intenso realismo, sobre a invasão da terra por seres extraterrenos. Mas tudo era apenas uma adaptação do livro “Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells.

Pela comprovada criatividade, Welles teve chance de realizar seu primeiro filme, em 1941, cercado de condições excepcionais: a produtora R.K.O. lhe concedeu independência total para dirigir e interpretar “Cidadão Kane”, com a preciosa colaboração do inventivo fotógrafo e roteirista Gregg Toland, a quem é atribuída uma expressiva parcela de participação (para alguns tão importante quanto a de Orson) na elaboração da obra como um todo.
Na época, Toland declarou em entrevista: “Quando trabalhamos juntos no roteiro, imaginamos que, se possível, a fita deveria fazer com que os espectadores estivessem assistindo a uma realidade, e não meramente a um filme. Preparamos previamente nossos ângulos e composições, a fim de que a ação pudesse ocorrer simultaneamente em pontos distantes, situados em primeiro plano e no fundo do quadro”.

Estilo impactante

Filmada em preto-e-branco, com muitos planos escuros e fundo acinzentado, razão pela qual é considerada bastante influenciadora do então nascente cinema “noir”, com o qual também apresenta a analogia da narrativa em “off”, a impactante criação de Welles impôs um estilo visual bem particular, com grandes angulares deformando expressões faciais, monumentos e paisagens; cenários barrocos e incisivos primeiros planos sobre rostos geralmente amargurados. Até hoje, as principais técnicas de narrativa cinematográfica são quase todas calcadas nas inovações introduzidas por Welles há quase 70 anos.

Sob outros aspectos, “Cidadão Kane” é um filme de investigação e uma descrição ousada sobre as relações escusas entre o mundo político e certo tipo de imprensa, tema bastante atual e facilmente comprovado, a cada dia, inclusive na presente realidade brasileira.

O castelo de Xanadu, onde mora Kane, nada mais é do que a ainda tão presente materialização dos desejos de milionários megalomaníacos e de profundo mau gosto, assessorados por arquitetos servis, em verdadeiros monumentos consagrados ao que o “kitsch” tem de pior. Um dos únicos senões atribuídos ao filme seria certa falta de identificação emocional entre o espectador e os personagens, que não emocionam ao ponto de estabelecer uma relação de amor ou aversão, sendo mais conduzidos pela qualidade de composição das imagens do que por sua real empatia com o público.

Apesar de subestimado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que o ignorou na categoria de melhor filme e preferiu agraciar “Como Era Verde o Meu Vale”, uma obra menor do diretor John Ford, “Cidadão Kane” é hoje objeto de estudo constante nas mais importantes escolas de cinema, sobretudo no tocante ao emprego da profundidade de campo, das tomadas ampliadoras de ângulos e, também, quanto às transparências e iluminações.

O sucesso extraordinário de crítica obtido pela primeira realização de Orson Welles só fez despertar inveja e desconfiança a seu respeito, tendo o cineasta sido bastante descriminado por tentar filmar, a qualquer preço, algo que fosse bem além das banalidades então imperantes nas telas americanas. Depois de ter seu excepcional filme “Soberba” literalmente mutilado pelos produtores, viu-se obrigado a interromper as filmagens de “It’s All True”, um semidocumentário que ele realizaria no Brasil. Em Fortaleza, Welles chegou a filmar boa parte de um dos episódios da produção, tendo como tema a saga dos jangadeiros cearenses em sua épica viagem até o Rio de Janeiro. A falta de sorte do cineasta esteve presente até na inesperada morte do pescador Jacaré, vítima fatal de um acidente ocorrido em estranhas circunstâncias durante as filmagens.

Amado e incompreendido

Fã incondicional do teatro de Shakespeare, Orson Welles levou à tela as peças “Macbeth” e “Othello”, realizações internacionalmente premiadas em importantes festivais, apesar de realizadas em condições precárias e com baixíssimos orçamentos, penosamente conseguidos depois de muito empenho do cineasta, que muitas vezes teve de submeter-se a interpretar pequenos papéis em filmes insignificantes, só com o objetivo de obter capital para suas produções. Uma das exceções foi sua irretocável aparição em “O Terceiro Homem”, de Carol Reed, no qual ele se torna a mais impressionante presença de todo o filme interpretando um personagem que, apesar de mover o eixo da trama, aparece em cena apenas por poucos minutos.

Mesmo lutando com imensas dificuldades, Orson Welles conseguiu realizar filmes magníficos, entre eles “A Dama de Shangai”, ao lado de sua então mulher Rita Hayworth, onde ele, numa de suas falas, faz uma menção a supostos tubarões existentes nas praias de Fortaleza. Também muito marcantes, na história do cinema, são “A Marca da Maldade”, com Charlton Heston e Marlene Dietrich, um dos mais instigantes filmes no estilo “noir”, sobre um xerife desonesto que fabrica provas contra os que julga culpados, sob o pretexto de ajudar a Justiça, e “O Processo”, onde conseguiu reproduzir à perfeição a atmosfera deprimente e as imagens desconcertantes suscitadas pela obra do escritor Franz Kafka.

Mundialmente reconhecido como um dos maiores criadores da história da Sétima Arte, Orson Welles morreu deprimido, pobre e sem encontrar trabalho. Pouco antes de sua morte, concedeu à imprensa uma entrevista comovente e desesperada, na qual relatava as dificuldades para angariar uma mínima soma que o possibilitasse a realizar seu último filme, que ele nem mesmo conseguiu começar.

Filmografia:

1934 - Hearts of age (curta)
1938 - Too much Johnson (curta)
1941 - Cidadão Kane (Citizen Kane)
1942 - Soberba (The Magnificent Ambersons)
1942 - Jornada do pavor (Journey into fear)
1946 - O estranho (The Stranger)
1948 - A Dama de Shanghai (The Lady from Shanghai)
1948 - Reinado de sangue (Macbeth)
1949 - Memórias de um mágico (Black magic)
1952 - Othello (The Tragedy of Othello: The moor of Venice)
1955 - Grilhões do passado (Mr. Arkadin)
1955 - Moby Dick rehearsed (TV)
1956 - Orson Welles and people (TV)
1958 - A Marca da Maldade (Touch of Evil)
1958 - The Fountain of youth (TV)
1958 - Portrait of Gina (TV)
1960 - David e Golia
1962 - No exit
1962 - O Processo (Le Procès)
1965 - Campanadas a medianoche
1968 - História imortal(The Immortal story)
1968 - Vienna
1969 - The Merchant of Venice (TV)
1970 - The Deep
1971 - London
1972 - The Other side of the wind
1975 - Vérités et mensonges
1984 - The Spirit of Charles Lindbergh
1992 - Don Quixote

1 de outubro de 2010

IN MEMORIAM - LUIZ BERTAZZONI

Luto pela Morte de Luiz Bertazzoni

Conheci Luiz Bertazzoni em 1992 e esse fato mudou a minha vida. Através de seu andar quixotesco e corpo franzino ele me ensinou a trilhar os passos do universo teatral. Luiz Bertazzoni era um desses heróis que não deram certo. Sempre defendeu uma arte que nem sempre o defendeu. Foi acima de tudo um sonhador. Plantou sementes que germinaram fortes e, por mais que os galhos não se encontrem sempre do mesmo lado é impossível negar que são sementes dessa aroeira que foi o mestre.
Recebi um recado de Fábio Dias me pedindo que entrasse em contato com ele. Liguei e ele me deu a notícia de que o Luiz havia falecido durante a noite de 30 de setembro em Echaporã/SP onde ele morava com a irmã, Irene. Notícia não tinha nada para completar o quadro que todos nós supúnhamos e esperávamos. Mas ver que o que era possível se tornou real e irreversível foi demais doloroso.
É difícil pensar que ele não caminha mais entre a gente, ele está livre de toda a dor e sofrimento e isso nos deixa mais tranqüilos. Por outro lado temos esse lado egoísta de não querer que as pessoas por quem temos apreço seja tirada de nós, mas o que sabemos nós sobre tudo o que nos cerca? Não sabemos nada e desejamos errados. Luiz é como uma estrela que renasce no céu. Ficará sobre nós rindo de tudo e nos emocionando a cada passo no palco. A cada sombra boa ele estará mais presente. Imagino a festa no céu agora. Recebendo ao bom diretor com certeza está o Professor Altino, o Ramis Pedro, a tia Maria e o Sidney Santucci.
Luiz militou no teatro tupãense de meados da década de 40 até meados de 2008 quando se deu o ressurgimento do Grupo Fênix, que ele ajudou a fundar e foi um dos principais mentores. Ele também esteve presente na criação do Grupo Ágape. Todos nós, mais velhos, tivemos a honra de trabalhar com Luiz, seja atuando ou sendo dirigido por ele.
Não consigo escrever muita coisa agora, ainda ecoa na minha mente procurando a aceitação essa notícia. Deixo pra vcs a última foto que nos tiramos juntos. Fomos a Echaporã informá-lo de que iríamos prestar uma homenagem a ele na Mostra Cultural Estudantil Profº Altino Martinez. Fábio Dias, Luiz Bertazzoni e eu...

publico aqui também a oração do ator.

Oração do ator
José Expedito Marques (Ao Sadi Cabral, com a minha admiração.)
Extraída da SBAT Revista de Teatro


Ó meu Deus onipotente, criador do maior espetáculo - o
Universo - ouvi-me nesta prece de amor!
Dai-me a perseverança, a paciência, a dignidade e o amor ao
próximo, para que o meu espectador possa me suportar com
perseverança, paciência, dignidade e amor.
Fazei com que eu viva meu papel, sem me distanciar de Vós.
Fazei com que a minha personalidade não se deixe influenciar pelo
meu personagem, mas que eu possa colher dele toda a vivência,
todo o vigor, toda a força e toda a magnitude.
Que eu transforme a realidade em uma nova realidade, que eu interprete
a obra de arte com toda a força interior e que eu colha do meu trabalho
toda a justiça, toda a fortaleza, toda a grandeza e todo o amor.
Fazei com que as luzes dos refletores se tornem luzes divinas a iluminar
todos os atos da minha vida cênica, para que eu faça do palco um altar,
sempre na intenção de o respeitar, dignificar, amar e venerar.
Que cada representação seja para mim um ato de fé.
Que cada trabalho seja um sacrifício em busca do sucesso e da
glória para que eu envelheça, crescendo na representação, e
represente, crescendo na velhice; sempre trabalhando, sempre
emocionando o público e sempre glorificando a arte.
Enfim, para quando eu não mais existir (neste planeta), a minha
atuação aqui na Terra não tenha sido em vão, quando cair o
pano, no ato final, todos aqueles que conviveram comigo possam
aplaudir-me, gritando: bravo! bravo!
E, assim, eu possa agradar ao maior Diretor Universal: Deus!
Evoé!!!!!

EVOE MEU AMIGO E MESTRE, TE ENCONTRO NAS ESTRELAS!