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30 de maio de 2008

anúncio oficial BANDA PRONOBIS

Tupã, 30 de maio de 2008


Amigos


Há poucos dias atrás eu estava conversando com o Rogério Ribon, vocalista da banda Pronobis. E ele me disse que, infelizmente, a banda teve seu fim. Por mais de dez anos Rogério, Marcos Leite e Estevão Moreira estiveram juntos no palco trazendo o melhor do rock nacional na época como URBANIA e depois cumprindo a sina de seguir seu próprio caminho.
Quando da mudança muitas pessoas vieram nos dizer que preferiam a época cover da Legião Urbana. Mesmo tendo uma voz semelhante a de Renato Russo o Rogério não poderia nunca, e nem queria, tomar o lugar do outro. Renato foi uma influência forte na vida de muitos de nós, mas infelizmente temos apenas o seu registro histórico. Desde outubro de 1996 estamos sem um poeta que nos represente e isso é triste, mas querer que uma pessoa viva sempre a sombra de outra é irreal e egoísmo. Sempre dei meu total apoio a banda e ainda é assim hoje.
Por dez anos fui presidente do “Pronobis – Oficial Fã Clube” e sempre trabalhei para que houvesse informação e contato entre nós e a banda. Com o fim dessa época de transformações em todos nós e no mundo informo também o encerramento de nossas atividades. Quero agradece aqui as pessoas que sempre nos receberam de braços abertos e com forças nos pulmões para cantar conosco nos shows. Sem vocês jamais teríamos ido tão longe. Sinto-me honrado com as amizades que fiz estes anos todos e espero que sigamos juntos. Em breve teremos mais notícias.

Obrigado a TODOS



“FAREMOS A NOSSA REVOLUÇÃO”

Eduardo Duran

Presidente “Pronobis – Oficial Fã Clube

28 de maio de 2008

"Glória"

Para Alessandra Salatine





Pelo espelho retrovisor o motorista do táxi nos encarava
“Sua filha parece muito cansada.”
“É ela está pregada.”
“Sua filha, né?”
Ele deu uma piscada como se dissesse,”sei, sei”. Sacana, mas quem não era sacana? Quem não estaria quebrando uma regra fosse moral, lógica ou legal. Sempre tem alguém colocando o dedo na ferida e essa era a minha vez. Essa era a minha noite e eu não iria perder tempo tendo crises de consciência por que um taxista olhava para mim com inveja. Cada um poderia sempre sorrir diante do erro dos outros, ele que ficasse rindo então.Eu sequer sabia o nome da garota que dormia ao meu lado.
Chegamos à frente de minha casa. Acordei a menina e caminhamos até o portão, ela se recostou no muro e eu voltei ao táxi para acertar a corrida.
“Quanto foi?”
“Olhe doutor, um conselho. Tome cuidado com essas menininhas, elas são fogo.”
“Não, é só um pouco de sono.”
“Sua filha não é? Sei. Ela é no máximo dez anos mais nova que você. Deu vinte paus.”
Paguei e me virei. Ela sorriu e disse, “me leva pra casa papai”, ela ainda frisou bem o “papai”. Pequena sacana. Já na sala ela tirou o tênis e sentiu o assoalho. Caminhou como se já conhecesse a casa, o que não era verdade. Sentou-se no sofá e apoiou os pés na mesa de centro atulhada de revistas de rock, algumas hq´s, livros e em cima dos livros minhas poesias e crônicas.
“Tem um refrigerante?”
“Deve ter, não sei!”
“A pessoa nem sabe o que tem em casa.”
“Uísque eu sei que tenho, tenho rum, conhaque...”.
Levantou-se e foi atrás do que queria. Achou a cozinha, a geladeira, a Pepsi e o copo. Gostava da determinação que ela demonstrava. Na volta ficou parada diante da mesa onde eu costumo trabalhar.
“O que é isso?”
Minha vez de ser sacana
“Se chama máquina de escrever portátil”.
“Isso eu sei”.
“Então a pergunta é referente a quê”?
“Você é mesmo escritor?”
“Sou.”
“E já publicou? Escritor sem ter publicado nada não é escritor.”
“Você já teve filho? Mulher sem ser tido filho não é mulher. Eu sou um escritor, não sou um editor.”
“Você tem maconha?”
“Não. Eu não gosto.”
“Nunca vi escritor que não fumasse maconha.”
“Quantos escritores você conhece pessoalmente?”
Odiava essa idéia de ter que ser como os outros querem. Sentou-se no sofá, me olhou de canto. Sentei-me em uma poltrona próxima e acendi um cigarro.
“Posso dormir aqui?”
“E teus pais?”
“Eles cabem no teu sofá?” disse isso com uma cara de quem queria mesmo era se divertir e não estava ligando muito para as conseqüências. Fazia-me lembrar de minha época de colégio onde sempre imaginamos meus amigos e eu, que seríamos eternos aos dezessete anos. Será que havia ainda um pouco dessa inocência em mim, e se houvesse quanto seria essa parte de mim hoje?
Fui até meu quarto e apanhei travesseiro e um lençol. Não acreditava realmente na liberdade que ela bradava.
“Se tiver fome sabe onde tem as coisas. Irei tomar um banho.”
Não terminei o cigarro. Fui ao banheiro e liguei o chuveiro, gostava muito de ouvir o som da água caindo enquanto me despia. Entrei debaixo do jato quente e deixei os ombros caírem, o corpo agradeceu àquela massagem. A cabeça girou e tive uma sensação estranha. Abri os olhos e ela me encarava parada na porta, estava só de camiseta e calcinha. Tinha um meio sorriso nos lábios e olhava meu pinto. Veio caminhando e entrou no que sobrara de espaço entre meu corpo e a parede do box. Puxou-me para um beijo, mordeu meu peito doído e minhas mãos começaram a percorrer suas costas. Ajoelhou-se e senti meu corpo crescendo dentro de sua boca. Ela tinha nove anos a menos que eu.
Acordei exausto e com uma marca de mordida no ombro direito, estava roxo e ainda dolorido. Ela não estava mais ali, ela havia partido enquanto eu dormia e me fizera o sacro favor de não me acordar. Eu gostava mais dela depois disso, não eram todas as pessoas que tinham essa sensibilidade de saber que o outro precisa dormir o tanto que o corpo pedia. Eu odeio quando alguém me acordava, parecia que o universo interrompia sua expansão naquele momento.
Olhei no relógio por uma formalidade imbecil, já que era domingo, quase dez da manhã. Levantei-me como um fardo. Não encontrei meus chinelos, mas vi a toalha ainda úmida jogada no chão perto da cama, não tinha condições de faze mais nada a não ser sorrir. Entrei na cozinha e vi um milagre sendo retratado, sentada à mesa tomando uma xícara de café e devorando um sanduíche de queijo ela estava absorta. Parecia uma foto antiga dessas pin up´s que a gente vê em revistas de tatuagens. Vestia um camisão meu aberto nos quatro primeiros botões. A curva interna do seio fazia um desenho incrível, poderia ficar ali olhando para ela por dias seguidos sem mesmo perceber. Os cabelos vermelhos contrastavam com a pele clara, era como o amanhecer no deserto. Sua boca abriu-se para mais uma mordida e era como um sopro de verdade numa manhã esquecida.
“Você dormiu bem?” mesmo com a boca cheia, e talvez por isso fosse tão belo, ela era encantadora. Baixou a cabeça e só então eu pude reparar que ela estava lendo alguma coisa. Era meu primeiro livro que estava na estante de meu escritório, perdido entre outras coisas ele era como um fóssil esperando para ser descoberto.
“Você mentiu para mim ontem.”
“Eu?”
“Sim, você sabe. Quando disse que não havia publicado nenhum livro.”
“Esse livro foi meu primeiro. Faz tempo que eu não o vejo por aí!”
“Estou gostando dos poemas. É fácil encontrar nas livrarias?”
“Não, não é. Ele não foi muito bem aceito e a distribuição foi uma bosta”.
“Que pena. Eu queria comprar um e trazer para você escrever uma dedicatória bem sacana.”
“Bem, você pode ficar com esse. Eu devo ter outros guardados em uma caixa no quarto vago. O que você quer que eu escreva?”
“Não sei. Algo bem pessoal e que me faça lembrar de ontem. Algo que me faça bem.”
“Nossa. Mas já vou avisando que sou péssimo nisso de escrever dedicatórias e coisas afins.”
“Posso te fazer uma pergunta?”
“Claro.”
“Por que você só escreve sobre bebedeira, músicas tristes e relacionamentos que não dão certo?”
“Porque a minha vida é assim. Esse é o resumo poético de meu dia-a-dia.”
“É verdade que você teve muitas namoradas?”
“Sim, quer dizer, não sei se se pode dizer que foram muitas namoradas. Mas já me envolvi com muitas mulheres. Não tanto quanto as pessoas pensam.”
“E você já amou alguma?”
“Todas.”
“Deixa de ser mentiroso. Não se pode amar todo mundo.”
“Eu amei cada uma da forma que me foi possível amar. Nem todas da mesma forma e com a mesma intensidade. Mas eu as amei sim.”
“Sente falta de alguma em especial?”
“Não.”
“Lá vem você mentindo de novo.”
“Eu deixo alguns fantasmas bem escondidos.”
Ela se levantou e veio caminhando em minha direção. Passo após passo como uma jovem leoa desfilando na savana. Havia poesia e sexo em seus movimentos. Se eu fechasse os olhos naquele momento com certeza ouviria Steve Ray Vaughan e seria perfeito. Pousou a mão em meu ombro direito e alisou a marca de sua boca, sorriu. Umedeceu os lábios com a ponta da língua. Sentou-se em meu colo, frente a frente eu pude me perder na cor de seus olhos. Era um castanho que me fazia lembrar de uísque. Minha boca ficou cheia de água. Ela chegou bem perto, pude sentir seu hálito em minha própria boca. Beijou a ponta de meu nariz e depois o queixo, o pescoço, a orelha esquerda e por fim a boca. Sua língua bailava em minha boca. Minhas mãos passeavam por suas costas, da cintura à nuca sua pele se arrepiava. O beijo ganhou mais intensidade e ela começou a movimentar o quadril num movimento ritmado e delicioso. Afundei minha mão no mar vermelho de seus cabelos e os puxei calma e firmemente. Um doce gemido saiu espremido por entre nossos lábios;
Beijei seu queixo e seu pescoço, ela arranhou minhas costas com força. A cadeira antiga gemeu devido ao nosso peso e movimentação. Minha mão foi abrindo os outros botões da camisa e pude ver eriçados seus mamilos, lindos.
“Você me acha bonita?”
“Tão bela como o alvorecer.”
“Como você sabe se nessa hora você sempre está dormindo?” “Já vi o dia nascer algumas vezes e, mesmo que tivesse feito isso só uma vez já seria suficiente para me tocar profundamente a cada vez que eu me lembrasse desse momento. Você é assim para mim, pode ser que a gente nunca mais se veja. Mas sempre me lembrarei de como foi belo os momentos que ficamos juntos.”.
“Você é sempre assim?”
“Sou. Por isso estou solteiro há tanto tempo. Hoje em dia vocês, mulheres não querem saber de poesia, seja ela marginal, beatnik, romântica... vocês querem saber de um rapaz com cara de cafajeste e um pouco de loucura.”
“E o que foi que voe me ofereceu desde ontem? A mesma coisa que esses rapazes, ou você acha que não tem um olhar sacana e uma boca que parece pedir um beijo sempre? A única diferença entre você e um desses caras é que, quando você fala é bom ouvir.”
Além de tudo ela dizia coisas boas de ouvir, Nos deitamos ali no chão frio da cozinha. Algumas coisas não podiam esperar e por isso existia a urgência, ela foi criada pelo diabo para não nos dar tempo para analisar as conseqüências das coisas. Era, acima de tudo, uma atitude bem proveitosa. O cheiro do corpo daquela garota me inebriava me deixa alto como um porre do melhor uísque. Eu respirava profundamente com seus cabelos me cobrindo o rosto, queria guardar aquele cheiro comigo o máximo que me fosse possível. Mesmo o gosto de sua pele parecia-me especial, era como se não havia outro sabor a ser experimentado e, uma vez que isso acontecia, esse seria o sabor predominante por toda a sua vida. Ela era um mistério e uma revelação ao mesmo tempo. Adorava-a ter por perto, não só para sexo, mas por sua companhia e pelas coisas que ela me dizia que, de alguma forma, me deixavam mais próximo da pessoa que eu havia sido antes de publicar meu livro “Espírito Beat”. Depois disso muita coisa em mim mudou. Mas estar com essa menina era um lapso no tempo que me levava de volta à minha própria história.
Pode parecer que era a primeira vez que nós havíamos nos encontrado, mas era a quarta ou quinta vez. Porém era a primeira vez que ela vinha a minha casa. Eu a conheci em um cinema do centro que estava exibindo uma série de filmes de Orson Welles. Ela, assim como eu, estava só. Era triste essa imagem, por que todos aos saírem da sala estavam conversando com alguém próximo, menos nós dois. No hall do cinema parei abri minha cigarreira, ainda estava pensando no Othelo feito por Orson, quando ela se aproximou e me pediu um cigarro. Ficou ali fumando comigo enquanto esperava uma amiga que viria apanhá-la. Contou-me que havia chegado há poucos anos e ainda não havia se acostumado com a cidade e com as pessoas que a orbitavam. Éramos estranhos realmente, personagens reclusos de um romance pessimamente escrito. Não era só eu que costumava passar dias caminhando pelos parques sozinho, nem indo a restaurantes e lanchonetes, cinemas, bares, bibliotecas e qualquer outro lugar que seria melhor aproveitado se você estivesse acompanhado. Não perguntou muita coisa a meu respeito, pensei comigo “Não tinha mais ninguém para arranjar um cigarro e ela se resignou e veio falar comigo.” A tal amiga chegou e ela me deu o telefone da casa onde estava morando, disse que estaria esperando um convite para um cerveja ou um sorvete. Com a mão na porta aberta do carro ela ainda sorriu e disse “Dois tortos se apóiam.” Entrou e sua amiga partiu levando um pouco da estranheza daquela noite.
Liguei uma semana depois e ela fingiu que não se lembrava de mim, ou não lembrava realmente e eu imagino que fez isso para ser divertida. Eu havia sido convidado a uma festa que não iria se não tivesse companhia, eu em geral não ficava nas rodinhas conversando amenidades. Meu lugar era o bar e meu papo era com o barman. Mas naquela noite seria diferente, haveria mais alguém sentado ao bar comigo.
Para meu espanto, mesmo torcendo pelo melhor, ela aceitou o convite e marcamos em um bar perto do local da festa. Cheguei vinte minutos antes e pedi uma dose dupla de uísque sem gelo. Escolhi uma mesa que fosse visível do lado de fora do bar. Tirei do bolso do casaco um livro desses de bolso e mergulhei fundo na mente bêbada de Buckowski. As aventuras de Henry Chinaski me deixavam tonto por que me eram familiares os detalhes e as confusões. Mesmo sendo ele de Los Angeles e eu daqui. Assim como o Bandini em seu Bunker Hill. Éramos degradados em nossos países.
Ela chegou pontual e sentou-se antes mesmo de que pudesse convidá-la, perguntou o que eu estava bebendo e pediu o mesmo, me ofereceu um de seus cigarros. Não gostava de Marlboro, preferia Lucky Strike ou qualquer outro. Ela me perguntou se eu era punk, respondi negativamente. Ela me disse que conhecia muitos punks e eles fumavam Lucky, disse a ela que eu era um cara normal de trinta anos e com um olho de cada cor. Este detalhe de minha fisionomia chamava mesmo a atenção por isso eu a assumia tranquilamente. Havia passado por um transplante de corna quando tinha quatro anos e como herança ganhei um olho castanho para companheiro do meu verde natural. Algumas vezes quando era indagado sobre o fato respondia que era por que havia sido um husky siberiano na encarnação passada. Ela me contou que tinha uma marca de nascença na virilha em forma me maçã e me prometeu que se eu me comportasse direito uma hora ela me mostraria. Gostava dessa maneira dela tomar a frente nas coisas, eu estava desacostumado nesse assunto de paqueras e segundas intenções, na verdade nunca me considerei uma pessoa que soubesse realmente quais eram as regras do jogo de conquista.
Terminamos aquela dose e fomos à festa. Um apartamento amplo cheio de pessoas que, na verdade, não sabiam por que estavam ali. Eram atores, escritores, músicos, pintores e algumas modelos viciadas em cocaína e magrelas. Paloma era a anfitriã que pensava que se juntasse algumas pessoas que certos jornais, revistas e programas de TV afirmavam ser intelectuais ela seria tratada de uma forma diferente do que a menina mimada e fútil que era realmente. A grande maioria que estava ali nem a suportava realmente, mas engoliam esse fato em troca de uma foto em alguma coluna social que seria publicada com o que iria sobrar daquele circo. Eu já a achava interessante e até gostava dessa tentativa dela de se juntar a algum tipo de pessoa, sempre achei a solidão a pior maldição que um ser humano poderia suportar, a não ser que essa situação fosse momentânea ou mesmo procurada, fora isso eu preferiria dar um tiro no pé e brincar de Castro Alves.
Já na entrada encontrei Alfredo Padilha, diretor de teatro e arrogante mor. Tentei sair de fininho, mas ele segurou em meu braço e me arrastou para um canto. Ele era sebento e eu sabia o que poderia esperar dele.
“Onde você encontrou essa ninfa?”
“Ela estava em uma festa a fantasia que fui semana passada.” Adorava ser irônico com ele, Alfredo era tão imbecil que nunca desconfiava dos jogos que eu fazia.
“É? Nossa que interessante. E do que você foi? E ela foi vestida do quê?”
“Eu fui de Professor Humbert e ela estava de Lolita”.
“Que interessante. Você não nos apresentaria?”
“Claro Alfredo, aos amigos tudo.”
Fiz um sinal para que ela se aproximasse e sussurrei em seu ouvido que não estranhasse.
“Alfredo Padilha, essa é Dolores.”
“Muito prazer minha querida. Então, o que você tem achado da conversa desse Senhor Humbert.”
Ela sorriu com malícia, havia percebido a brincadeira.
“Ora, como não se encantar com esse homem tão sério e respeitador. Estou adorando-o. Vamos querido?”
“Claro que sim minha fada.”
Saímos caminhando, mas nem havia andado três passos e me virei em direção ao Padilha para a cartada final.
“Alfredo, se você encontrar o Nabokov diga a ele que sou grato a ele por tudo que ele me proporcionou nessa noite.”
“Pode deixar meu caro. Se eu o vir por aqui direi.”
Ela me beliscou levemente na mão direita.
“Como você é cruel. Isso não se faz. Para que derrubar máscaras?”
“Desculpe, mas não suporto a ignorância desses P.I.M.B.A.”.
“Desse o quê?”
“P.IM. B.A. Sigla de Pseudo Intelectual Metido a Besta. O Alfredo Padilha é um escroto que só atrapalha o teatro. Quando você milita em uma área tão importante quanto à cultura não pode ficar só sentado em cima do seu próprio rabo e ficar fazendo fuxicos como uma velha desocupada. Ele é tão imbecil que se importa com o que não deve se importar. Nunca leu nenhum dos papas da teoria teatral, como ele mesmo diz. É um cara que fica gozando com o pau dos outros.”
“Por que você me trouxe aqui?”
“Para não ter que sofrer sozinho.”
“Muito romântico. É assim que você conquista suas mulheres?” “Não sou eu que as conquisto. É o inverso que acontece.”.
Paloma veio se aproximando com um sorriso bom e sincero nos lábios. As apresentei e pude perceber que minha nova amiga finalmente relaxara ao encontrar alguém com a mesma idade. Na verdade éramos nos três e mais dois rapazes os únicos com idade inferior a quarenta anos e só as duas ainda não haviam chegado aos trinta. Era natural que ela se sentisse assim, eu mesmo me sentia sempre assim. Será que éramos únicos? Claro que não, mas esboçar inteligência e um pouco de personalidade ou não ser pasteurizado com o restante pela mídia imbecil apoiada nas imagens de carnaval, futebol, sexo e ladroagem nos deixava mesmo à margem.
Ficamos até quase às duas da manhã ali. Bebemos uísque, ouvimos piadas sem graça, nos informaram das últimas fofocas de separações e flagras de adultério. Uma modelo havia sido presa fazendo programa com um senador e no quarto havia cocaína e maconha, tudo comprado com o dinheiro do contribuinte. O fato só não se tornou escândalo por que a modelo serviu de brinquedo aos policias que fizeram o flagrante. O motel havia sido pago com o mesmo dinheiro e no fim a autoridade aliviou o senador das drogas e de cinco mil reais.
Eu já estava de saco cheio de tudo aquilo e olhei implorando para que fôssemos embora, nos olhos dela havia o mesmo pedido. Saímos de fina, sem nos despedirmos de ninguém, eu era craque nessas rotas de fuga. No elevador pedi desculpas por tê-la feito passar por aquilo tudo, mas tinha que saber até onde ela agüentaria no meu mundo cheio de inveja e mentira. No primeiro teste ela havia passado com louvor, na verdade ela agüentaria bem mais do que eu, ela era educada, eu não tinha a paciência necessária. Ali entre as paredes de inox do elevador ela se aproximou como uma serpente pronta para o bote.
“Você tem medo de mim?”
“Não, por quê?”
“Então por que você não chega mais perto. Eu não mordo, quer dizer, só se você deixar.”
“Se eu disser você promete que não vai rir?”
“Prometo!”
“Eu sou tímido e reconhecidamente desajeitado com as mulheres,”.
Realmente ela não riu, gargalhou. Foi lindo ver seus dentes se mostrando enquanto os ombros subiam e desciam ritmados pela risada. Eu também sorri e me aproximei mais. Segurei em suas mãos e a trouxe pra perto de mim. Seu rosto ficou sério e lindo. Meu coração palpitava e me senti com quatorze anos de novo, sua boca era macia e o seu perfume intenso. Abraçou-me forte e senti seus seios se comprimindo em meu peito. Seus dedos tocavam minha nuca de leve e as minhas alisavam suas costas. Foi um beijo calmo, foi o primeiro e foi bom, muito bom.
A terceira vez que nos vimos foi mero acaso. Eu estava em um sebo no centro e ela apareceu com um livro antigo com a lombada já reformada onde era possível ler “Sonetos de Florbela Espanca”. Era uma grata surpresa. Na minha cestinha, respondendo a pergunta que ela me fizera, estavam uma biografia de Glauber Rocha, poemas de Castro Alves e um songbook de Vinícius de Moraes. Ela sorriu dizendo que eu tinha um gosto literário estranho. Nem argumentei por que sabia que ela tinha razão. Não tentava me enquadrar, se eu me interessava eu lia. Amava ser livre para poder escolher algo completamente diferente do que havia escolhido antes.
Saímos para tomar um sorvete e depois caímos no vinho e conversamos amenidades, não tocamos no assunto do beijo. Ficamos assim até quase as vinte horas e descobri nela mais do que tinha visto no primeiro momento, isso me deixava calmo por que não haveria coisa mais estúpida do que sermos previsíveis em relação a qualquer coisa. Queria descobrir seus segredos e queria mesmo contar alguns de meus próprios, sei que todos temos segredos, mesmo que sejam tolos e infantis. O segredo é a essência da atitude adulta. Sempre temos um fantasma vagando pela nossa mente, pronto a nos pregar os maiores sustos possíveis. O espelho não servia para refletir somente o nosso físico, mas nos permite encararmos nossos olhos em uma análise que fazemos do que se passa em nossa cabeça. Temos segredos que nem nós mesmos podemos assumir nesses breves momentos de reconhecimento próprio. Minha cabeça girava em um monólogo absurdo enquanto ela acendia um cigarro.
“Conte-me algo que você nunca contou a ninguém. Algo que você tem medo de assumir até para você mesma.” Eu adorava esses jogos mentais, me fazia lembrar das brincadeiras de verdade e desafio que costumava ter com alguns amigos.
“Nossa você faz umas perguntas estranhas e difíceis em horas estranhas.”
“Desculpe, mas eu não sabia que havia uma hora própria para se ter um momento de curiosidade.”
“E não há mesmo! Mas é que queria apenas relaxar aqui um pouco, sabe, sem ter que ser racional demais. Por que você não me conta alguma coisa de você?”
“Está bem, se você quer que eu comece... Certa vez me interessei por uma amiga na faculdade. Nós nos conhecíamos há cinco anos, mas era a primeira vez que tínhamos um convívio mais próximo. Sempre soube que ela era uma bela mulher, mas eu queria mais. Sempre procurei nas pessoas algo que pudesse sustentar o convívio e dar um sentido a mais. Um motivo a mais para querer estar ao lado da pessoa além do que se é óbvio. A questão é que eu nunca disse nada a ela por que eu namorava com uma outra mulher que morava em uma cidade distante e costumava vir para cá de vez em quando. Poucos amigos sabem da existência dessa pessoa em minha vida e ela era uma das que desconheciam o fato. Fiquei semanas confuso em uma luta imbecil até. Não era claro o que sentia em relação a essa minha amiga, por que essas histórias sempre envolvem mais pessoas do que imaginamos. Quando percebi que a única coisa a fazer era tomar a rédea do que sentia em minhas mãos eu terminei meu namoro e resolvi lutar por essa amiga.”
“E como terminou a história? Vocês ficaram juntos? Vocês ainda estão juntos? Acho bom você me contar por que eu não gosto de ser a outra.”
“Pode ficar tranqüila por que não tenho ninguém. Na verdade essa história ainda está em aberto na minha vida. Como eu acho que a grande maioria das coisas. Nada se encerra realmente, fica ali escondido em algum canto esperando uma chance real de nos surpreender.”
“Ok entendi. Minha vez então. Eu sempre fui inconstante em meus relacionamentos. Sempre quis uma pessoa diferente da que eu estava e o problema, hoje eu sei, não estava neles estava em mim.”
“Não creio que houvesse problema real nisso. Não existe mesmo uma regra para isso. Existe o que a sociedade tenta se convencer que é o usual. Mas mesmo eles não cumprem realmente essas convenções. O que você me diz da pessoa que sempre sonhou em encontrar a pessoa perfeita para construir uma vida em conjunto e quando consegue pouco tempo depois essa mesma pessoa tenta arranjar um substituto para aquela pessoa que foi eleita como parceira ideal. O mundo sempre teve seus casos e sua falsa moral. Há mais coisas podres em nós do que podemos agüentar, por isso tentamos empurrar isso tudo para outra pessoa que faz o mesmo conosco.”
“É impressão minha ou você anda meio amargo esses dias?”
“Ando confuso na realidade.”
Passamos muito tempo sem falar, somente sentados naquele banco de jardim de mãos dadas olhando nossos abismos internos. Pensei que depois dessa noite de divagações nós nunca mais nos veríamos e ela nunca mais me procurou.
Até que recebi um telefonema no início da tarde de ontem e era ela me convidando para uma festa. Antes mesmo que eu pudesse formular algo dentro de mim ela disse que as festas que ela ia usualmente não tinham muito a ver com as festas que eu estava acostumado a ir. Esse foi o ponto decisivo para que eu aceitasse o convite. E o que me deixou mais entusiasmado é que não teriam aqueles P.I.M.B.A. S todos, realmente ela estava começando a me conhecer.
“Ok, você diz que não estarão os intelectualóides que conheço. Então creio que teremos a companhia dos P.U.M.B.A.S.?”
“Não sei. O que são P.U.M.B.A.S.?” ·.
“Nossa, são tão maçantes quanto os outros. Eles são ao Pseudo Ultramodernos Metidos A Besta!”
“Imagino o que você faz o dia inteiro para ter tempo de criar essas categorias.”
O fato de que nós ainda não havíamos perguntado um ao outro o que fazíamos de nossa vida não me deixa apreensivo. Sentia-me bem quando as pessoas não me reconheciam, já havia passado o tempo em que me sentia um bosta por que as pessoas não se lembravam onde é que já tinham visto meu rosto antes. O ego acabara por se acostumar em ser mais um. Teve também época em que era reconhecido em quase todos os lugares aonde ia e isso me deixava puto por que não me sentia confortável em lugares públicos que não tinha, até então, razão para evitar. Hoje isso não me importava muito, sobretudo por que não tinha escrito nada ultimamente então não que me preocupar com a vendagem. Eu não teria problema em assumir que me importo sim se meus livros vendem ou não, esse era meu ganha pão e eu não conseguia me portar como um blasé se eu não soubesse o que eu iria comer amanhã. Já havia passado à época de passar fome e não me importar. Hoje eu tinha a mania burguês de querer comer e receber pelo o que produzia. Acho estúpidas as pessoas, sobretudo as do poder público, que sempre tentam nos empurrar a um dito trabalho voluntário que elas mesmas não estão dispostas a cumprir. È fácil demonstrar melhorias baseado no suor alheio. Anos e anos desse tipo de exploração velada haviam me deixado com um grande receio de aceitar mesmo ir conversar com secretários de cultura e prefeitos. E, geralmente quando era inevitável esse contato eu já ia com o espírito preparado para ser roubado. Eles se esquecem de que nós somos artistas e não burocratas incompetentes que estavam em uma posição da qual pouco ou nada sabiam. Os governos iam e vinham e pouquíssimos continuavam ali sentadinhos em suas mesas. Já nós, vagabundos iluminados, permanecámos produzindo e sendo o que sempre fomos. O nosso caso não era estado passageiro. Todos se esquecem de que não são, mas estão cumprindo um papel. Senão haveria sempre uma chacina cada vez que alguém montasse Hamlet. É mais do que claro que esse assunto me deixava transtornado por que ninguém tentava enomizar consigo, sempre no nosso.
Fomos à festa e realmente, diverti-me como há tempos não havia feito. Haviam pessoas de todas as idades e ninguém estava ali para ser mais que os outros mas sim para poder dançar, conversar e beber com amigos. Algo me dizia que o sentido em se dar uma festa era esse realmente. O mundo que eu vivia estava errado e sabíamos disso, só não tínhamos coragem de chutar as pompas para longe, mesmo os que se faziam de porraloucas precisavam daquela dose de ego massageado. Sorri por toda a noite como se estivesse em torpor. Um bom momento é o ópio do espírito, fica-se leve como após um gozo. Não queria que a noite terminasse, ela estava linda com seus jeans e camiseta. Não havia mistérios, só uísque e vontade. Um casal se beijava como se estivessem buscando a vida eterna um na boca do outro. Uma garota sentada num canto mexia a bebida com o dedo. Um rapaz olhava para onde duas mulheres dançavam esfregando-e como enguias. O rapaz do bar atendia a todos com um olhar guloso no casal que se beijava. Nós caminhávamos de mãos dadas pelo meio das pessoas e elas nos sorriam. Não ficavam olhando intrigadas para aquela menina e aquele homem que começava a ter alguns fios brancos na barba. Éramos finalmente parte de um conjunto. Fomos ao bar e pegamos uma garrafa de uísque, sentamos em um canto e bebemos e bebemos por toda a noite. Falamos de nós mas sem ser invasivos, torçamos alguns carinhos não velados e eu tocava seus ombros por sobre a camiseta. Mesmo com o calor que fazia não nos movemos muito para longe daquela mesa. A salvação estava ali.
Percebi que a o mágico momento estava terminando, os outros começaram a sair em grupinhos, ela assumiu que tinha bebido demais e queria dormir. Foi então que sugeri que fôsemos para a minha casa, momento onde começa a nossa história. Mas depois do café, do sexo e de tudo o que foi dito verbal e motoramente ficava a pergunta bailando como chama em uma fogueira, até quando nos veríamos? Eu estava pronto para ter uma história em minha vida? Eu estava pronto para renunciar a essa possibilidade e me culpar quando me sentisse sozinho mais tarde?
Ela foi ao banheiro e tomou uma ducha rápida, veio com os cabelos molhados e sorrindo, quando seus lábios se abriam em sorrisos meu coração palpitava,era mais que linda. Sabia que chegava o momento em que nos despediríamos e depois só a incerteza natural do que não está combinado. Será que esse havia sido um momento único? Será que ela estava disposta a voltar, ou será que me levaria a sua casa em uma próxima vez. Será que haveria essa próxima vez? E por que eu estava me preocupando tanto? Ela suspirou como se fosse dizer algo e tivesse se arrependido.
“O que foi minha cara?”
“Nada não, encanação besta.”
“Me diz o que é. Quem sabe posso te ajudar.”
“Será que nos veremos novamente ou será que só foi isso mesmo.”
“Agora depende de você, afinal já sabe onde moro, quem sou , o que faço e tem até meu número. Só falta mesmo dizer o que é importante. Você quer voltar?”
“Sim quero. E para empatar o jogo, irei escrever aqui nesse canto da parede perto de sua escrivaninha uma coisa para se lembrar de mim.”
Apanhou uma caneta e foi como felina. Escreveu três linhas e veio em minha direção. Pegou minha mão e me conduziu até a porta.
“Agora preciso ir. Fique bem e me surpreenda.”
Me deu um beijo e partiu deixando o perfume de seus cabelos . Corri para a perede e li em uma letra redondoa um número de telefone, endereço e um nome. Ela se chamava Glória.



UM GOSTO AMARGO NA BOCA



Equilibrei-me sobre o banquinho de madeira e olhei pelo quintal de casa. Não pensei em nada apenas naquilo que não queria mais saber. Quanto tempo demoraria todo o processo? Será que isso realmente importaria? Amigos não me procurariam tão cedo e por isso poderia sair errado o que não planejara, mas realizara de uma forma tranqüila.
Já havia um certo tempo que eu estava pensando nesta possibilidade e em qualquer outra forma de terminar com todo e qualquer sofrimento que teria ou poderia vir a ter caso tudo não desse certo. Seria vergonhoso sair daqui com este fracasso no meu curto histórico de realizações.
Inspirei, procurei encher meus pulmões de ar. Adoro essa sensação de que nada está acontecendo só que a vida te toma de assalto de uma forma tão estranha. A vida na verdade é invisível e te estupra a cada mísero instante. Fiquei ali equilibrando sensações baratas e possibilidades mil em uma única atitude.
Tudo é cabível no momento de desespero. Quero entender bem mais do que apenas aquelas pessoas que irão ler o triste relato em um jornal que será esquecido na prateleira de algum açougue ou peixaria. Minha história iria servir para embrulhar alimentos para mais uma nação de pobres coitados fadados ao mesmo fim que tive. A única diferença entre eles e eu é que eu escolhi a hora e a forma de colocar um fim em tudo que me incomodava. Acomodei a corda em torno do pescoço e agachei-me um pouco, só para testar o laço, nada poderia dar errado. O abraço final fechou-se em volta do pescoço e agora realmente era para valer, não poderia desistir depois de ir tão longe, não ficava nem chique.
Fechei os olhos e coloquei os pés na beira do assento do banquinho de madeira, meus dedos tocavam a borda e se prendiam como se fosse possível evitar o mergulho. De repente lembrei de uma música que dizia "tropeçavas nos astros" e fiquei ali parado esperando o dia nascer feliz. Uma brisa gelada percorreu todo o quintal e invadiu sem medo todo o meu cosmos. Não haveria mais beijos para trocar diante da possibilidade absurda de uma paixão. Eu ficaria para sempre ali secando como uma camiseta. A vida esvai a cada instante mesmo.
O barulho do portão se abrindo chamou minha atenção, quem seria uma hora dessas? Aqueles olhos castanhos encontram os meus e eles revelavam surpresa. O encontro não previsto salvaria ou destruiria minha vida ou o que sobrava dela. A boca dela se abriu em uma pergunta que não poderia ser feita por que eu morreria antes do tempo. Meus olhos se crisparam e lentamente me joguei naquele mergulho. A boca dela se abriu e emitiu um grito desesperado. As lágrimas começaram a rolar e molharam o seu rosto.
Ela correu em direção ao meu corpo que balançava como uma bandeira. Tentou me erguer, mas percebi que faltava força, faltava coerência com o ato em si. Ela não parava de repetir "POR FAVOR, NÃO MORRA! AGORA NÃO SEU FILHO DA PUTA". Eu havia me esquecido como era quente o abraço dela e como o perfume que o corpo exalava depois do sexo inebriava mais que qualquer coisa. Meu deus como eu adorava ouvir a voz dessa garota me sussurrando loucuras nos locais mais impróprios... Estávamos unidos novamente, mas não era para ela estar ali.
O abraço foi fechando e ar machucava meu corpo por que ele queria entrar, mas não era possível. A luz começou a invadir um espaço obscuro na minha mente e tudo foi ficando mais lento e fora de foco. Quem estava ali segurando minha mão? Quem eram aquelas pessoas? Senti meus membros formigarem e as lágrimas também rolaram em meus olhos. Não sofria mais, era incomodo e só, mas dor não havia mais...
A minha última visão foram aqueles olhos que choravam... As últimas palavras que ouvi dela tinham uma nova realidade que dita ontem até poderia me salvar da covardia do ato: "Eu te amo seu palhaço. Você vai ser pai”.
E tudo terminou com o leve cerrar de meus olhos

27 de maio de 2008

Recebi de meu amigo e também escritor José Rodolfo Klimek uma crítica a respeito de meu conto "Glória". Peço a ele licença para publicar aqui um trecho e um link de seu blog.

"Gostei muito do conto Glória. Seu jeito de escrever é o tipo de leitura que eu gosto. Fora algumas frases geniais que você escondeu no meio do texto, como o cara que goza com o pau dos outros e aquela que fala que a vida é invisível e nos estupra. Você escreve muito, muito, bem. E esse personagem principal, um escritor sem glamour, seu alter-ego, que por ser exatamente demasiado desajeitado, sincero e pessimista acaba por encantar o leitor. Ganha sua simpatia sem querer. Não havia como o final ser outra coisa que uma tragédia, embora a calma que Glória propicia ao suicida na vã tentativa de salvá-lo é uma forma de tornar feliz a angústia que o escritor sentia. "

26 de maio de 2008

boa semana

A menina que trabalha aqui em casa havia fugido com um ex-namorado, ela deixou o atual marido e partiu. É claro que, algumas coisas só se resolvem assim mesmo na base do pé na porta e faca entre os dentes. Esse final de semana me fez pensar, desde sexta-feira que algumas coisas não me saem da cabeça; dentre as quais a que sou um idiota completo e com carteirinha de algum clube que já faliu. O sábado nem tem o que relatar por que ainda dói fundo.
Domingo foi um dia frio e monótono. Algumas coisas que você acaba te afastando da praia e é bom saber nadar em mar aberto. É bom ter braços fortes pra enfrentar as possibilidades. Demos algumas lambidas nas feridas, mas elas não fecharam. A novidade e que eu dormi mal pra caralho (rs). Acordei muito cedo com dores pelo corpo e uma leve febre, resultado da gripe que não cuido. Me sentei aqui em frente a esse computador para poder ler as notícias e comecei a conversar com algumas pessoas que me são tão queridas que nem sei.
Estou com uma vergonha danada de você. Não quis te irritar, mas podemos falar as coisas para nós sem terceiros? Tem um cara que não me lembro o nome, ele dizia “o amor ideal não pode dar certo.” Ele tem razão. Bruce Willis tá aqui soprando a gaita desde as 7h30 dessa manhã fria de segunda-feira (estou ouvindo “Blues for Mister D.”), minhas mãos estão frias e a garganta seca, calosa. Infelizmente tenho que sair daqui a pouco, queria ver um filme na tv. Queria um café bem forte e quente... mas tenho que fazer a barba e ir cuidar das aulas que começarei a dar em breve.
É a última semana do mês de maio (“ maio já está no final” cantaria Paula Toller) e tem tanta coisa que anda me preocupando e deixando ansioso. Os filhotinhos não param, invadem o corredor dos quartos travando uma luta espetacular cheia de latidos agudos, eles só têm cinqüenta dias. Pulam um sobre os outros e brincam como se fosse à única missão. Tem um que vem sempre aqui onde estou e me encara tentando compreender penso eu, como posso dar mais atenção a essa máquina do que a eles. O pequeno tem razão.Bem, a menina que trabalha em casa, por algum motivo voltou. Talvez o amor ideal não possa mesmo existir

25 de maio de 2008

o poeta disse assim "festei e me arrependi"...
o duro é que nem foi por conta do Hugo, Mas o poeta aqui não se dá bem além das páginas que ele escreve minha querida. Gostaria que minha vida fosse um poema meu. Mas não é. É a vida que gera o poema e não o poema que gera a vida...beijos

...

Sabe o que me deixa mal mesmo? Ela me conhece e sabe que eu iria querer vê-la, mesmo depois do que nos dissemos ontem. Dormi muito mal, por que em meus sonhos, a todo instante aparecia algo que me remetia a ela. Por que somos realmente ligados e amigos.
É claro que eu não deveria ter dito metade das coisas que disse. Só que foi necessário para que algumas coisas fossem exteriorizadas realmente. Não foi fácil e ainda ecoam em minha cabeça muita coisa das ruas solitárias dessa pequena cidade. Fico em dúvida em como agir, sério eu estou perdido. Mas não quero me desculpar por ter sido sincero, não quero me desculpar por ter dito o que disse. Não quero ter de me desculpar sempre por sentir o que sinto e nego agora. Não irei me desculpar e nem escrever outro poema, nem outro blues... Aposentarei a caneta. Por que em cada verso meu terá um tanto dela nas cores, no ritmo, na escolha da palavra certa.
Ela está aqui sorrindo para mim enquanto digito esse desabafo que me despertou antes do porre ter passado completamente. Meio sonolento ainda, mas decidido a fazer o melhor para mim, doa em quem doer. Eu sei que sou um cara triste que cansou do silêncio. Um cara comum desses que ninguém se lembra no dia seguinte. Sou um cara que sofre nas madrugadas, mas ainda assim caminha. Por que se eu ficar parado eu morro,, eu piro.
Quero ficar aqui onde estou. É a primeira vez eu não sinto aquela vontade imensa de sumir e nem de abandonar. Apenas de ficar no meu canto. Mas não me sinto preparado para escrever nada além do que brota aqui. Johnny Cash me compreenderia sem nenhuma sombra de dúvida. Será que isso realmente importa? Quer dizer; sabemos que nossa amizade está ali intacta, e que não como. O mais doido é que escrevo o que escrevo ouvindo uma música que sempre me fará lembrar dela. E sigo baixando músicas e criando cd,s a ela. A minha imbecilidade é sem tamanho por que sei que ela me faz bem e me quer bem e que a recíproca desse sentimento é real. Tenha um bom dia minha querida

24 de maio de 2008

Escritor e terapeuta Roberto Freire morre aos 81 anos

Corpo foi cremado em São Paulo neste sábado (24).
Freire escreveu para os programas 'A Grande Família' e 'TV Mulher'.


O escritor e terapeuta Roberto Freire morreu na noite desta sexta-feira (23), aos 81 anos. O corpo foi cremado neste sábado (24) no crematório da Vila Alpina, em São Paulo. A causa da morte não foi divulgada pela família. Freire escreveu para teatro, cinema e televisão, além de ser autor de 25 livros, entre eles, a autobiografia “Eu é um outro”, de 2003. Na TV, escreveu para os programas “A Grande Família” e “TV Mulher”. Entre as obras mais conhecidas estão "Sem Tesão Não Há Solução", "Coiote" e "Cleo e Daniel", que virou filme em 1970, com Sônia Braga, Myriam Muniz e John Herbert no elenco. Como terapeuta, Roberto Freire se concentrou no desenvolvimento da somaterapia, criada por ele nos anos 70 com base nas pesquisas do austríaco Wilhelm Reich e no movimento anarquista.

23 de maio de 2008

ouça o bom conselho que lhe dou de graça

EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado.
Aí está: eis a única questão.
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê?
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso,
na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui,
a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala,
pergunte que horas são;
e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
"É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Charles Baudelaire

22 de maio de 2008

Pqna

Queria dizer que sou mesmo assim, quando o filme me emociona eu choro. Caminho sozinho olhando nos olhos das pessoas e vejo que não era o único a se sentir sozinho. Saio cantando músicas que não sei a letra completamente e, em minha mente, poemas vão surgindo aos poucos.
já me cansei de tentar encontrar explicações pelo fato de não nos largamos em nenhum dia neste pouco mais de um mês que estamos juntos. Talvez dure pouco tempo, ou talvez seja para a vida toda, mas quanto tempo é necessário estarmos na vida de uma pessoa para que a sintamos eternamente em nossa história? Eu também não sei a resposta dessa pergunta, como não sei a resposta de muitas outras.
Sabe, vim pensando no filme que terminamos de assistir e queria saber quando foi que perdemos a sadia mania de escrever cartas de próprio punho? Claro que é um tanto quanto confuso o fato de que eu escrevo aqui neste blog algo que caberia em uma folha de caderno e em minha letra estranha. O que garante que não haja nada neste sentido esperando em sua caixa de correio? Ou no meio de seu fichário? A vida pode ser surpreendente e que quero ser surpreendido por ela e por você.
Fique bem nessa noite, nos veremos em breve
Beijos


P.S. Você sabe

20 de maio de 2008

Glória (trecho do meu 1° conto)

Pelo espelho retrovisor o motorista do táxi nos encarava
“Sua filha parece muito cansada.”
“É ela está pregada.”
“Sua filha, né?”
Ele deu uma piscada como se dissesse,”sei, sei”. Sacana, mas quem não era sacana? Quem não estaria quebrando uma regra fosse moral, lógica ou legal. Sempre tem alguém colocando o dedo na ferida e essa era a minha vez. Essa era a minha noite e eu não iria perder tempo tendo crises de consciência por que um taxista olhava para mim com inveja. Cada um poderia sempre sorrir diante do erro dos outros, ele que ficasse rindo então.Eu sequer sabia o nome da garota que dormia ao meu lado.
Chegamos à frente de minha casa. Acordei a menina e caminhamos até o portão, ela se recostou no muro e eu voltei ao táxi para acertar a corrida.
“Quanto foi?”
“Olhe doutor, um conselho. Tome cuidado com essas menininhas, elas são fogo.”
“Não, é só um pouco de sono.”
“Sua filha não é? Sei. Ela é no máximo dez anos mais nova que você. Deu vinte paus.”
Paguei e me virei. Ela sorriu e disse, “me leva pra casa papai”, ela ainda frisou bem o “papai”. Pequena sacana. Já na sala ela tirou o tênis e sentiu o assoalho. Caminhou como se já conhecesse a casa, o que não era verdade. Sentou-se no sofá e apoiou os pés na mesa de centro atulhada de revistas de rock, algumas hq´s, livros e em cima dos livros minhas poesias e crônicas.
“Tem um refrigerante?”
“Deve ter, não sei!”
“A pessoa nem sabe o que tem em casa.”
“Uísque eu sei que tenho, tenho rum, conhaque...”.
Levantou-se e foi atrás do que queria. Achou a cozinha, a geladeira, a Pepsi e o copo. Gostava da determinação que ela demonstrava. Na volta ficou parada diante da mesa onde eu costumo trabalhar.
“O que é isso?”
Minha vez de ser sacana
“Se chama máquina de escrever portátil”.
“Isso eu sei”.
“Então a pergunta é referente a quê”?
“Você é mesmo escritor?”
“Sou.”
“E já publicou? Escritor sem ter publicado nada não é escritor.”
“Você já teve filho? Mulher sem ser tido filho não é mulher. Eu sou um escritor, não sou um editor.”
“Você tem maconha?”
“Não. Eu não gosto.”
“Nunca vi escritor que não fumasse maconha.”
“Quantos escritores você conhece pessoalmente?”
Odiava essa idéia de ter que ser como os outros querem. Sentou-se no sofá, me olhou de canto. Sentei-me em uma poltrona próxima e acendi um cigarro.
“Posso dormir aqui?”
“E teus pais?”
“Eles cabem no teu sofá?” disse isso com uma cara de quem queria mesmo era se divertir e não estava ligando muito para as conseqüências. Fazia-me lembrar de minha época de colégio onde sempre imaginamos meus amigos e eu, que seríamos eternos aos dezessete anos. Será que havia ainda um pouco dessa inocência em mim, e se houvesse quanto seria essa parte de mim hoje?
Fui até meu quarto e apanhei travesseiro e um lençol. Não acreditava realmente na liberdade que ela bradava.
“Se tiver fome sabe onde tem as coisas. Irei tomar um banho.”
Não terminei o cigarro. Fui ao banheiro e liguei o chuveiro, gostava muito de ouvir o som da água caindo enquanto me despia. Entrei debaixo do jato quente e deixei os ombros caírem, o corpo agradeceu àquela massagem. A cabeça girou e tive uma sensação estranha. Abri os olhos e ela me encarava parada na porta, estava só de camiseta e calcinha. Tinha um meio sorriso nos lábios e olhava meu pinto. Veio caminhando e entrou no que sobrara de espaço entre meu corpo e a parede do box. Puxou-me para um beijo, mordeu meu peito doído e minhas mãos começaram a percorrer suas costas. Ajoelhou-se e senti meu corpo crescendo dentro de sua boca. Ela tinha nove anos a menos que eu.
Acordei exausto e com uma marca de mordida no ombro direito, estava roxo e ainda dolorido. Ela não estava mais ali, ela havia partido enquanto eu dormia e me fizera o sacro favor de não me acordar. Eu gostava mais dela depois disso, não eram todas as pessoas que tinham essa sensibilidade de saber que o outro precisa dormir o tanto que o corpo pedia. Eu odeio quando alguém me acordava, parecia que o universo interrompia sua expansão naquele momento.
Olhei no relógio por uma formalidade imbecil, já que era domingo, quase dez da manhã. Levantei-me como um fardo. Não encontrei meus chinelos, mas vi a toalha ainda úmida jogada no chão perto da cama, não tinha condições de faze mais nada a não ser sorrir. Entrei na cozinha e vi um milagre sendo retratado, sentada à mesa tomando uma xícara de café e devorando um sanduíche de queijo ela estava absorta. Parecia uma foto antiga dessas pin up´s que a gente vê em revistas de tatuagens. Vestia um camisão meu aberto nos quatro primeiros botões. A curva interna do seio fazia um desenho incrível, poderia ficar ali olhando para ela por dias seguidos sem mesmo perceber. Os cabelos vermelhos contrastavam com a pele clara, era como o amanhecer no deserto. Sua boca abriu-se para mais uma mordida e era como um sopro de verdade numa manhã esquecida.
“Você dormiu bem?” mesmo com a boca cheia, e talvez por isso fosse tão belo, ela era encantadora. Baixou a cabeça e só então eu pude reparar que ela estava lendo alguma coisa. Era meu primeiro livro que estava na estante de meu escritório, perdido entre outras coisas ele era como um fóssil esperando para ser descoberto.
“Você mentiu para mim ontem.”
“Eu?”
“Sim, você sabe. Quando disse que não havia publicado nenhum livro.”
“Esse livro foi meu primeiro. Faz tempo que eu não o vejo por aí!”
“Estou gostando dos poemas. É fácil encontrar nas livrarias?”
“Não, não é. Ele não foi muito bem aceito e a distribuição foi uma bosta”.
“Que pena. Eu queria comprar um e trazer para você escrever uma dedicatória bem sacana.”
“Bem, você pode ficar com esse. Eu devo ter outros guardados em uma caixa no quarto vago. O que você quer que eu escreva?”
“Não sei. Algo bem pessoal e que me faça lembrar de ontem. Algo que me faça bem.”
“Nossa. Mas já vou avisando que sou péssimo nisso de escrever dedicatórias e coisas afins.”
“Posso te fazer uma pergunta?”
“Claro.”
“Por que você só escreve sobre bebedeira, músicas tristes e relacionamentos que não dão certo?”
“Porque a minha vida é assim. Esse é o resumo poético de meu dia-a-dia.”
“É verdade que você teve muitas namoradas?”
“Sim, quer dizer, não sei se se pode dizer que foram muitas namoradas. Mas já me envolvi com muitas mulheres. Não tanto quanto as pessoas pensam.”
“E você já amou alguma?”
“Todas.”
“Deixa de ser mentiroso. Não se pode amar todo mundo.”
“Eu amei cada uma da forma que me foi possível amar. Nem todas da mesma forma e com a mesma intensidade. Mas eu as amei sim.”
“Sente falta de alguma em especial?”
“Não.”
“Lá vem você mentindo de novo.”
“Eu deixo alguns fantasmas bem escondidos.”
Pela segunda madrugada permaneço desperto. Muita música na minha cabeça; um pouco de Johnny Cash, um pouco de Bruce Willis, um pouco de Nasi. Muita coisa acontecendo ainda. Li no blog um texto do José Rodolfo um texto do caralho que eu gostaria de ter escrito. Fala sobre uma crise e tal.

18 de maio de 2008

o poema do Mapa Cultural Paulista

Alguns amigos que não conhecem esse poema me pediram para postá-lo. Na verdade quase ninguém conhece. Ele faz parte do meu segundo livro "Isso não é amor, é blues".




Pensamentos

"E caem como vento e em movimento transpassam seus olhos, seu cabelo...tudo se acalma e chora" Gabriela Carpi


Agora rascunho mais um poema,
Converso com Pandora e sei que lá fora está frio.
Glória e eu não nos vemos tem um tempo e sempre
Fica em minha mente o pedido
“Make me fell all right",
Mas nem nos vemos.
Daqui a pouco me canso desse azul e
Descerei a rua mesmo debaixo de chuva,
Comprar um charuto e uma dose de conhaque
Pra me fazer pensar melhor.
Ah, noite em que caem anjos
em chamas pelas capitais.
Noite em que lágrimas viajam pelas ondas da TV.
Perdoem as faltas, perdoem o pouco que somos
Nada faz sentido quando não nos vemos,
fica tudo como se fossem reticências
e a vida não perdoa mais o momento em que paramos
para espiar o sol se pondo.
Expiaremos feito um universo louco e caótico
Como se fôssemos um Big Bang às avessas...
Amanhã não teremos mais...
Make me fell all right





12 de maio de 2008

desabafo depois da premiação




São quase cinco da manhã e eu cheguei de São Paulo há pouco. Fui escolhido para integrar a coletânea do Mapa Cultural Paulista biênio 2007/2008. É claro que me sinto imensamente honrado e feliz em fazer parte dessa história. Mesmo a escrita sendo um exercício solitário é necessário vivermos esse momento de contato entre os iguais, por mais díspares que possamos ser e, se o formos, a qualidade está assegurada.
Depois de passar 14 horas em ônibus e mais um tanto em metrô e caminhadas pelas ruas de São Paulo. Estar em frente ao meu computador, com uma cerveja gelada e meu cachimbo é renascer entre os escombros do medo. Qual é a moral de tudo isso? Participar e surpreender-se. Quando li meu nome no enorme painel onde figuraram os escolhidos eu fiquei congelado e só balbuciava "O meu nome está ali na lista." E as pessoas estavam lendo "Eduardo Rocha Duran – Tupã- poesia "Pensamentos" e o mestre de cerimônias não se cansava de repetir; "Pedimos aos selecionados que venham ao palco para receberem os prêmios." Ravazi teve de me cutucar algumas vezes e mandar que eu fosse para lá. Fiquei triste por que gostaria que ele próprio estivesse constando ali na lista, assim como o José Rodolfo. Mas só eu teria de ir. Caminhei claudicante, com medo de que pudesse acordar a qualquer momento, mas o palco do Memorial da América Latina crescia ao me aproximar. Subi os três degraus e me uni aos outros. Incrédulo. Uma senhora veio em minha direção com o troféu e me perguntou;
"Você quem é?"
"Eu não sei!" nada fazia muito sentido, minha presença ali me soava como um momento de trégua em minhas incertezas. Senti-me em companhia de todos vocês meus caros amigos e minha mente era ágil em trazer a tona seus rostos e as possibilidades de crescermos em conjunto e produzirmos um bom material.
Olhei para os outros escolhidos e nos cumprimentávamos com parabéns surpresos. Eu não era o único embasbacado e isso reconforta quando você está no foco de centenas de estranhos em uma noite fria. Havia uma garota de cabelos cacheados a meu lado. Ela chorava. Perguntei: "Você escreve o quê?"
"Eu não sei!"
No fundo somos iguais nas incertezas e nas querências. Mesmo aqui, quinhentos quilômetros de tudo e vendo o troféu vítreo eu não creio ainda.